UE chega a acordo para aumentar a transparência nos alugueres de curta duração

UE chega a acordo para aumentar a transparência nos alugueres de curta duração

Num esforço para promover o turismo sustentável em toda a Europa, o Conselho Europeu (CE) e o Parlamento chegaram a um acordo provisório para implementar novos regulamentos em torno das plataformas de aluguer de curta duração, como a Airbnb.

As regras propostas visam aumentar a transparência e ajudar as autoridades públicas a regular melhor os alugueres de curta duração, que têm crescido exponencialmente com o aumento da economia digital.

Novos regulamentos exigem registo e partilha de dados

Os novos regulamentos exigem que os anfitriões se registem num único ponto de entrada digital em cada Estado-Membro e forneçam detalhes como informações de contacto e o endereço de cada propriedade.

As plataformas em linha também terão de partilhar regularmente dados mais pormenorizados com as autoridades, que serão utilizados para compilar estatísticas sobre o turismo e identificar anúncios ilegais.

"Todos ficam a ganhar com o acordo de hoje. O novo regulamento cria um conjunto único e simples de regras de informação para as plataformas e facilita os procedimentos de registo para os anfitriões", afirmou Rosana Morillo Rodriguez, Secretária de Estado do Turismo de Espanha.

O regulamento visa aumentar a transparência e a supervisão das plataformas de aluguer de curta duração.

Os anfitriões terão de registar cada propriedade e fornecer detalhes importantes às autoridades, num esforço para reprimir as listagens ilegais.

Os dados partilhados pelas plataformas permitirão aos governos compreender melhor o impacto dos alugueres de curta duração na habitação e no turismo locais.

Efeitos nos viajantes e imigrantes da UE

É provável que os regulamentos tenham pouco impacto direto nos visitantes da União Europeia (UE) ou nos imigrantes que utilizam plataformas de aluguer de curta duração, uma vez que o objetivo é sobretudo a recolha de dados.

No entanto, o aumento da supervisão e das estatísticas poderá beneficiar indiretamente os viajantes, reduzindo as listagens fraudulentas ou melhorando as decisões políticas relativas à escassez de habitação a preços acessíveis.

Para os cidadãos da UE que pretendem tornar-se anfitriões de aluguer de curta duração, os novos requisitos, como os números de registo, podem acrescentar pequenas etapas administrativas, mas também podem conferir maior legitimidade.

Os nómadas digitais ou os trabalhadores remotos que permaneçam numa área durante um período prolongado podem ter de estar atentos a potenciais alterações de política no futuro, uma vez que algumas cidades procuram limitar os alugueres de curta duração.

Mas, de um modo geral, a possibilidade de os viajantes reservarem alojamentos de curta duração não será afetada.

Relação com a política de imigração da UE

Embora este acordo se centre estritamente nos dados do turismo, reflecte o esforço mais amplo da UE para regulamentar as plataformas digitais e a economia de partilha.

As regras relativas ao registo e à comunicação de dados podem ser alargadas a outros sítios, como os de partilha de boleias, à medida que os responsáveis políticos procuram monitorizar a atividade económica possibilitada pela Internet.

Em termos de imigração, uma maior consciencialização dos padrões de habitação poderá influenciar as decisões de alguns países relativamente aos vistos de investimento ou aos programas de passaporte dourado.

Por exemplo, algumas cidades responsabilizaram os alugueres de curta duração pela redução do parque habitacional disponível, o que poderá ser tido em conta na futura elegibilidade para vistos se os investimentos estiverem ligados à compra de imóveis.

Mas, por enquanto, não há mudanças directas na política de imigração associadas a este acordo de aluguer de curta duração.

Avançar para normas à escala da UE

O acordo alcançado entre a CE e o Parlamento estabelece as bases para a uniformização da regulamentação do arrendamento de curta duração em toda a UE.

Atualmente, as regras diferem muito entre os Estados-Membros, com alguns a exigirem um registo nacional e outros a gerirem a nível local.

"O novo regulamento cria um conjunto único e fácil de regras de informação para as plataformas e facilita os procedimentos de registo para os anfitriões", afirmou Rodriguez.

Principais elementos do novo regulamento

Os anfitriões devem registar-se num Ponto de Entrada Digital Único em cada estado membro, fornecendo detalhes de contacto, endereços e um número de registo único para cada listagem.

As plataformas online transmitirão mensalmente às autoridades nacionais dados sobre anfitriões, reservas e outras actividades. As plataformas mais pequenas podem comunicar trimestralmente.

Os Estados-Membros partilharão dados em toda a UE para melhorar as estatísticas do turismo e coordenar a supervisão.

Os prestadores de serviços têm 24 meses para cumprir as regras após a sua aprovação formal.

Ao centralizar os requisitos em vez da atual abordagem de retalhos, os regulamentos visam reduzir os encargos de conformidade.

No entanto, alguns municípios podem manter regras locais adicionais além dos padrões a nível da UE.

Impacto potencial no ETIAS

Embora estes novos regulamentos sobre alugueres de curta duração se centrem principalmente na recolha de dados turísticos, reflectem um esforço mais amplo da UE para aumentar a supervisão das plataformas digitais.

As regras de registo, comunicação e partilha de informações podem ser o prenúncio de medidas semelhantes para regular outros sítios e serviços relacionados com a imigração ou as viagens.

Por exemplo, a próxima implementação do ETIAS (Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem) exigirá que os viajantes de mais de 60 países obtenham autorização prévia de viagem.

Para fazer cumprir os novos requisitos, os responsáveis políticos da UE planeiam monitorizar os dados das companhias aéreas e das reservas.

Os regulamentos relativos ao aluguer de curta duração demonstram a tendência para utilizar o acesso melhorado aos dados para reforçar as iniciativas de aplicação da imigração e de segurança das fronteiras, como o ETIAS.

Assim, embora as implicações directas sejam atualmente limitadas, a interconectividade dos dados do turismo e das bases de dados da imigração poderá abrir caminho para que a elegibilidade do ETIAS tenha em conta as estadias de aluguer de curta duração ou a análise do perfil.

medida que as prioridades da UE se deslocam no sentido de reforçar os sistemas de informação e os rastreios, parecem prováveis, a longo prazo, efeitos em cadeia em domínios políticos adjacentes.

Para os viajantes isentos de visto, habituados aos formulários básicos do ESTA para os EUA, o ETIAS poderá parecer cada vez mais complexo se for apoiado por um conjunto mais alargado de dados.

Próximas etapas

O acordo provisório ainda precisa da aprovação final da CE e do Parlamento. Mas a aprovação é amplamente esperada, uma vez que as negociações abordaram com êxito as preocupações relativas ao alinhamento com os regulamentos digitais existentes.

Se forem aprovadas, as regras constituirão um marco importante no equilíbrio dos interesses das plataformas de aluguer de curta duração, dos anfitriões, dos hóspedes e das comunidades. É provável que outras jurisdições, como as cidades dos Estados Unidos, acompanhem de perto a implementação, à medida que se debatem com a regulamentação do sector.

O movimento da UE no sentido da transparência nos alugueres de curta duração reflecte um realinhamento mais amplo na sequência da disrupção digital. À medida que sites como o Airbnb remodelam fundamentalmente os padrões de turismo e habitação, os decisores políticos estão a intervir para exercer uma maior supervisão através do registo, comunicação e partilha de dados.

Ao colaborar para estabelecer normas unificadas em vez de uma manta de retalhos de leis locais, a UE espera obter melhores informações e reduzir a complexidade. A execução será fundamental, uma vez que a existência de regras locais adicionais poderá ainda criar desafios. Mas, de um modo geral, este acordo mostra a ambição da UE de moldar ativamente os impactos da economia de partilha.