A revisão do espaço aéreo francês terá impacto em 16 500 voos

A revisão do espaço aéreo francês terá impacto em 16 500 voos

Numa iniciativa importante para modernizar os seus sistemas de controlo do tráfego aéreo, a França anunciou que mais de 16.000 voos serão cancelados no início de 2024. Esta revisão visa substituir o sistema atual, que remonta à década de 1970 e é crucial para gerir os mais de 2,5 milhões de voos que atravessam anualmente o espaço aéreo francês.

Impacto nos passageiros e nos voos

Entre 9 de janeiro e 14 de fevereiro, a atualização do sistema implicará alterações substanciais nos horários dos voos, afectando todas as companhias aéreas que operam nos principais aeroportos de Paris: Charles de Gaulle, Orly, Le Bourget e Beauvais. Prevê-se que as companhias aéreas dêem prioridade às rotas de longo curso, tendo a Air France anunciado já o cancelamento de mais de 4200 voos.

Embora os voos de longo curso possam ter prioridade, os cancelamentos irão sem dúvida incomodar muitos viajantes.

Para os visitantes de curta duração, principalmente turistas e viajantes de negócios dos países do espaço Schengen, o impacto é duplo. Por um lado, a redução da disponibilidade de voos pode obrigar a um planeamento mais meticuloso e a eventuais ajustamentos das datas de viagem. Por outro lado, o sistema modernizado, uma vez operacional, promete trajectórias de voo mais eficientes, potencialmente encurtando os tempos de viagem e melhorando a experiência global de viagem.

Os viajantes de longo prazo, incluindo famílias que se deslocam, investidores, nómadas digitais, estudantes e outros imigrantes, enfrentam um cenário mais complexo. Os cancelamentos de voos e as remodelações de horários podem perturbar os planos iniciais de relocalização, em especial para aqueles que dependem de prazos específicos para as datas de início da habitação, da escolaridade ou do emprego.

No entanto, os benefícios a longo prazo de um sistema de tráfego aéreo melhorado - aumento da capacidade aeroportuária, redução dos atrasos e diminuição das emissões de carbono - estão em sintonia com os objectivos mais amplos da UE em matéria de mobilidade sustentável e eficiente.

Uma nova trajetória para as políticas de imigração da UE

A decisão da França de modernizar os seus sistemas de controlo do tráfego aéreo repercute-se para além das suas fronteiras, influenciando as políticas de imigração e de viagens da União Europeia (UE) em geral. Esta mudança cruza-se nomeadamente com o Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (ETIAS) e com as políticas gerais de imigração, marcando um momento significativo na abordagem da UE à gestão das viagens transfronteiriças e da imigração.

Para o ETIAS, o sistema concebido para pré-selecionar os viajantes isentos de visto para o espaço Schengen, a revisão do espaço aéreo francês apresenta desafios e oportunidades. A redução dos voos pode inicialmente complicar os planos de viagem dos cidadãos de países terceiros que necessitam de autorização do ETIAS.

No entanto, a modernização do controlo do tráfego aéreo alinha-se com os objectivos mais amplos da UE de reforçar a segurança e a eficiência na gestão do fluxo de viajantes para o espaço Schengen. O sistema melhorado poderá facilitar uma melhor coordenação e partilha de informações entre os Estados-Membros, reforçando assim o aspeto de segurança do ETIAS.

No que diz respeito às políticas gerais de imigração, a iniciativa da França pode abrir um precedente para outros países da UE, levando-os a considerar actualizações semelhantes das suas infra-estruturas de tráfego aéreo. Isto poderá conduzir a uma abordagem mais harmonizada da gestão das viagens aéreas em toda a UE, com impacto direto nas políticas relacionadas com a circulação de imigrantes e viajantes. Estes avanços são cruciais para o objetivo da UE de manter um equilíbrio entre facilitar as viagens e garantir medidas de segurança sólidas.

Testar o novo sistema

O novo sistema "4-Flight", um esforço de colaboração entre a Direção dos Serviços de Navegação Aérea (DSNA) e a Thales, será testado no centro de controlo de Athis-Mons. Apesar das actualizações anteriores, a revisão completa é necessária devido à desatualização da infraestrutura do sistema, que ainda utiliza tiras de papel para os voos que chegam.

Para facilitar esta transição, as companhias aéreas estão a ser encorajadas a reduzir voluntariamente os seus horários de voo em 20% durante o período de atualização. Esta redução não é obrigatória por lei, mas é vista como um interesse coletivo para a eficiência do sistema de gestão do espaço aéreo.

O programa de modernização, que teve início em 2011, sofreu atrasos e só deverá estar totalmente operacional em 2026. No entanto, uma vez implementado, prevê-se que aumente a capacidade aeroportuária, reduza os atrasos e diminua as emissões de CO2 através da melhoria das trajectórias de voo.